quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Maria do Céu Guerra, Actriz

Entrevista de Adelino Sá

No seu nome existe o “Céu” e a “Guerra”, isso é a busca do equilíbrio entre o céu a alcançar e a guerra a travar?
Ter este nome é puramente acidental, Guerra eram os meus avós e a minha mãe, Maria do Céu foi o meu pai que escolheu. A combinação destes dois nomes acabou por criar um conteúdo, um significado. Para alguns pode parecer um conceito, eu acho que quando muito, é um destino.

Como foi conciliar vida familiar e profissional?
Não foi fácil, mas é das profissões mais compensadoras, não a nível material mas a nível pessoal e espiritual. Em Portugal, foi sempre e ainda é complicado, ter filhos, criá-los e ser actriz.

Qual é para si o melhor e o pior de Portugal?
O melhor de Portugal é e tem sido sempre a sua situação geográfica, o sol, o mar, as pessoas que se deparam com situações de necessidade e sem grandes responsabilidades pelos desmandos que sempre acontecem naquele país.
O pior em muitos sectores é a falta de sentido de responsabilidade e a falta de sentido de serviço, na cultura, na política. São poucos aqueles que se sentem responsáveis por fazer e fazer bem e dar prova de si. Quando se chega a um determinado grau social as pessoas acham que já chegaram, que todas as pessoas têm obrigação de os respeitar, de lhes baixar a cabeça e perdem o sentido de serviço. Todos nós temos que trabalhar e prestar contas a todos, temos obrigações e sentido de responsabilidade, direitos e deveres.

Mas houve uma grande evolução com a entrada na Europa...
Portugal melhorou muito com a entrada na Europa teve várias injecções de dinheiro e ganhou condições de desenvolvimento que até aí não tinha. No entanto cada partido responsável que vai para o poder com muita dificuldade assume a responsabilidade desse poder.
Numa companhia de Teatro quando decidimos montar uma peça damos o sangue, a alma, damos tudo. Trabalhamos o que for preciso para que aquele trabalho corra bem. Para quando se abrem as portas ao público, que é quem nos vai julgar, ele continue a gostar do que fazemos, a respeitar-nos, a apoiar-nos e melhore a sua condição como espectador.
Muitas vezes os nossos políticos não têm esse sentido. Acho que cada pessoa nas suas funções tem que ter responsabilidade. Os nossos políticos, a maior parte das vezes, não têm sentido de serviço.
Chegam às estruturas de mais de alta responsabilidade de uma forma vaidosa, não dialogante, e sem pensar que é sua estrita obrigação prestar contas aos outros.

Na peça “O Pranto de Maria Parda” de Gil Vicente sente-se toda a força do povo português através da sua representação.
O povo de Portugal é extraordinário de norte a sul. Nas coisas que me é dado representar em cena, na sua vontade de viver, na sua vontade de ser feliz, no seu “élan” vital, são características maravilhosas do nosso povo quase intactas. Admiro-o pois ele é forte, criativo, solidário, verdadeiro.

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